terça-feira, maio 28

psicofármacos

A LASMEC tem o prazer de divulgar o I Curso de Psicofármacos da Liga Acadêmica de Psiquiatria da UnB. Participem!!














































Acompanhe o evento pelo facebook.

quinta-feira, maio 23

obrigado a todos!

Encerramos o primeiro evento feito pela Lasmec UnB, que foi um sucesso! Queríamos agradecer a todos que fizeram esse evento acontecer, que participaram das rodas de conversa, das apresentações artísticas, das exposições, e principalmente à galera da produção que perdeu noites de sono se dedicando à organização e apresentar pra todo mundo quem foram as carinhas que estavam envolvidas por trás desse evento:

Luíza Amadeu - estudante de psicologia
Jordana Coury - estudante de Artes Plásticas
Gabrielly Farias - estudante de ciências contábeis
Gabriela Fiúza - estudante de psicologia
Fernanda Diniz - estudante de psicologia
Victor Guevara Loyola - estudante de psicologia
Laís Pires - estudante de psicologia
Thomaz Augusto Alberto - estudante de psicologia
Fernando Assunção - estudante de psicologia

Um dos objetivos dessa Semana foi trazer o debate da saúde mental para todos, e a Liga abre esse espaço para o debate continuar para quem tiver interesse! Nós vamos nos reunir 1 vez por semana, por 2 horinhas, que vamos definir juntos um dia que fica bom para todos. As reuniões não são que nem aulas, cada um fica livre para trazer um texto, filme, poesia, etc, sobre o tema pra gente debater junto. A Liga também está se organizando para virar projeto de extensão, e a prática não está fora disso. Vamos organizar juntos projetos para trabalhar com os usuários dos CAPS, da ONG Inverso, etc.

Venha fazer parte dessa Luta!!

#aLoucuraÉparaTODOS

segunda-feira, maio 20

a luta continua

HOJE (Segunda-feria, 20/05) AUDIÊNCIA PÚBLICA DA CÂMARA LEGISLATIVA EM PROL DA SAÚDE MENTAL, 10h, na FEPECS! Compareçam!

MANIFESTO À POPULAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL
NO DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL 2013
Muito a Comemorar, Mais Ainda a Resistir!
18 de maio é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial: comemoração de uma trajetória de 25 anos de muita mobilização social, que resultou em conquistas e avanços nas políticas públicas de saúde mental no Brasil, a partir de um novo olhar sobre a atenção ao sofrimento psíquico. Essas mudanças foram construídas (através da participação) em quatro Conferências Nacionais de Saúde Mental e na luta pela aprovação da Lei Paulo Delgado (10.216/2001) que reorientaram o modelo de atenção às pessoas acometidas de transtorno mental e definiram a política pública nesta área.

Até então o tratamento das pessoas acometidas de transtorno mental era a internação em manicômios, hospitais psiquiátricos e hospícios, lugares de exclusão, injustiça e violação de Direitos Humanos, onde as pessoas permaneciam internadas por longos anos, excluídas do convívio social, vítimas de maus-tratos, violências de toda ordem – inclusive morte.

Profissionais, familiares e usuários dos serviços de saúde mental se organizaram e lutaram por uma política de saúde mental, sustentada no respeito integral às pessoas que se encontram com sua saúde mental fragilizada. Lutamos para superar o preconceito, os rótulos de periculosidade e de incapacidade e pelo reconhecimento de seus direitos como seres humanos e cidadãos.

O eixo central da rede de assistência em Saúde Mental passou a ser a substituição dos leitos e da internação em hospitais psiquiátricos como única alternativa por uma ampla Rede de Atenção Psicossocial, centrada na inclusão social: em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de atendimento a pessoas acometidas de intenso sofrimento psíquico, adultos, crianças e adolescentes e dependentes de álcool e outras drogas, em Residências Terapêuticas, em Centros de Convivência, Unidades de Acolhimento, no Programa de Volta para Casa e em projetos de inclusão pelo trabalho. No ano de 2000, contávamos com 208 CAPS no Brasil. Em 2013, chegamos à marca de aproximadamente 2000 CAPS em todo o país.

Mesmo com tantas conquistas a Luta não acabou. É com grande preocupação que assistimos a um enorme retrocesso na Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde, com o desvirtuamento da rede de atenção financiada pelo SUS; com a política desenfreada de internação aos dependentes de crack; com a não obediência à Lei 10.216 e com o desrespeito à legislação nacional e internacional sobre os direitos humanos das pessoas necessitadas de cuidados em saúde mental. Assistimos o Governo Federal alocar enormes recursos em instituições privadas, as chamadas comunidades terapêuticas, em sua maior parte vinculadas a igrejas e objeto de denúncia de maus-tratos em relatórios sobre violações de Direitos Humanos produzidos por Conselhos Profissionais (Conselho Federal de Psicologia, Conselho Federal de Serviço Social), Movimentos Antimanicomiais e instituições de combate à tortura e de Defesa de Direitos Humanos.

         Consideramos inaceitável que a Presidência da República aloque recursos, na casa de 130 milhões de reais para essas instituições privadas que, na sua grande maioria, oferecem serviços desumanos, ineficientes e ineficazes.

Por isso lutamos:
  • Pelo cumprimento da Lei 10.216!
  • Pelo fortalecimento da Rede Pública de Atenção à Saúde Mental!
  • Pela não privatização e terceirização dos recursos do SUS!
  • Pelo direito à saúde com respeito à diferença, à autonomia e à liberdade!
  • Pelo respeito integral aos Direitos Humanos!

MOVIMENTO PRÓ-SAÚDE MENTAL DO DISTRITO FEDERAL

domingo, maio 19

semana da luta antimanicomial na UnBTV

Olha a gente na UnBTV! ♥

ESQUIZOQUE??

       A Esquizoanálise ou Pragmática Universal de Gilles Deleuze e Félix Guattari não é escola, linha, corrente ou qualquer outro colegiado instituído. Ela se revela um caçar de linhas de fuga, privilegiando a potência inventiva que não está no sujeito, no objeto, nas ideias, nas coisas, e sim no entre. 
       Percebemos o inconsciente como maquínico. Mas o que isso quer dizer? Que ele é, que (nós) somos produtores. Como combustível? O nosso desejo, não o desejo inalcançável e faltante, mas aquele que nos impulsiona, o que nos move e nos faz produzir seres de nós mesmos, seres do devir, no entre dos encontros.

       No campo clínico não é a clínica da palavra, das respostas ou da razão. É a klínica do corpo, das sensações, do incômodo. Para tanto, nos propomos a deixar tudo à flor da pele, experimentar a desrazão. E para viver esse fazer/saber esquizoanalítico nos utilizamos do Esquizodrama de Gregório Baremblitt. Um experimento nos corpos que trate de “raspar”, de provocar as bases do que já está instituído, de intensificar e deflagrar os pontos de singularidade dos participantes e dos movimentos do grupo, à caça de proliferar as diversidades, as multiplicidades e conhecer os diversos elementos de singularidade e assumi-los nos campos ético e estético do cotidiano.
       Assim, nossa proposta é de liberdade. Tirá-los da “normose”. Lembrando que não há receitas, apenas uma cartografia, um desenho de linhas no espaço sócio-histórico. Propomos aqui uma linha de fuga, de ideias roubadas, apenas buscando ser útil para a produção de vida de cada um de nós.



Todo mundo morreu... E nasceu de novo na vivência de esquizoanálise essa quinta-feira, 16 de maio.



Agradecemos imensamente às psicólogas Cláudia Regina de Carvalho Sousa e Thalita de Almeida Queiroz por nos proporcionarem essa experiência!

sobre nanomania, pequeneza e delírio



"Nanomanias: os pequenos delírios e os delírios do pequeno" -  Por Hilan Bensusan


           Ai meu Deus, o que está me pinicando? O que está me fazendo coçar? Toda esta coceira, todas estas coisas miúdas, invisíveis, que fogem dos olhos e me pinicam, me arrepiam. Elas me controlam, controlam o movimento da minha mão, preenchem meus poros, infectam minha língua, se abrigam no meu nariz, ocupam o espaço debaixo das minhas unhas. Quem são? Quem vive dentro de mim? Quem espreita pelos meus olhos? Quem se abriga nos meus pelos? Que orgias de micromachos e microfêmeas, de homúnculos, de femúnculas, que nanobacanais têm lugar a cada segundo nas minhas carnes? Sou transportadora de bicho-do-pé, e mais, de bicho-da-tripa, da-língua, da-barba, da bochecha, de micróbio, de microfungo, de microflora, de partícula – sou um veículo, uma malha rodoviária ambulante. E, no entanto, são esses demônios minúsculos que me carregam, que me manobram, eu sou um habitat para elas, sou sua paisagem, sua biosfera, seu nicho. Sou títere desta classe política em miniatura. Você também, cheio de vales e becos e morros e países que se formam e se dissolvem a cada suspiro. Olha a Dilmícula! O microobama, o sarney virando sarna... E todas estes nanodéspotas todo-poderosos, partículas de deuses, deusóns, fazem questão de insinuar toda hora que são eles que me governam. E me impelem a coçar. Uma compulsão. Uma convulsão. É esta minha coceira que não para. São eles, os pequenos déspotas, me dizendo que estão aqui. Que comandam meus ímpetos, meus impulsos, meus humores. Dizem que são os espíritos animais. E eles coçam. Pinicam. Sempre tem uma partícula solta rondando minha vizinhança. Eu achei que era o chifrudo. O pequeno lúcifer. O demônio. Demons. Daimons. 

          Vim para a universidade tentar curar minha nanomania. Tentar parar com este tique de coçar. Era tique, me disseram. Ou era TOC. Tique ou TOC. TOC ou Tique. Transtorno obsessivo-compulsivo. Ou um tique. A cada segundo um novo tique. E quando cheguei aqui me explicaram: há coisas maiores, eis da natureza, planetas e galáxias, há Gaia superpovoada, mas para explicar como as coisas são mesmo, no seu substrato, temos que olhar para dentro delas, mais para dentro, mais para dentro, mais para dentro, até chegar nos neutrons, nos quarks, no bóson de Higgs, que compõe a harmonia das partículas e nos elude: a partícula de Deus – arredia e poderosa, ou talvez apenas trapaceira. De todo modo, presente no íntimo, no mais recôndito dos fóruns, nas cavidades mais profundas, dentro do dentro do dentro. O piloto de tudo. Curvei-me a este bóson. Reverenciei com minhas organelas, com meus corpúsculos, com minhas vísceras ajoelhadas esse bóson, o início e o fim de todo esse adentramento interminável: aquela pedra que não tem porta. Mas minha coceira não parou. TOC? Tique? Outro tique? Alguma coisa continuava me pinicando. E esse bóson tão divino não tem também suas glândulas, suas válculas, suas clavículas, suas partículas, como homúnculos que tem homúnculos que tem homúnculos? Feynman já dizia há anos que há muito espaço lá embaixo. Cabem bósons nos bósons. Coceira. Eu me coço. Decidi não me ajoelhar e me tornar a própria Tripa do Bóson, o Cisco do Quark, este Profeta das Grandezas do Ínfimo, que se coça. Uma nanomania. Tentaram me internar, me levar mais para dentro, para dentro, onde os olhos não chegam, onde as mãos não ousam tocar. Mas eu escapo, aprendi com os bósons. Delirar com o pequeno não é mais do que um pequeno delírio. Todo mundo tem suas delicadezas, suas miudezas, sua sutileza, sua alteza. Sua beleza interior. Quer ver?




          Coça. Tudo coça. Pinica. São esses bichos microescrotos que fixaram residência em minhas dobras, em minha pele, em minhas tripas, em meus beiços, dentro do meu nariz, nos meus cabelos. Eles me impelem a me arranhar, a me unhar, a me roçar. Compulsivos. Convulsivos. Melhor lavar as mãos. Alguém tem uma bacia? Gosto quando minhas mãos estão limpas, a gente nunca sabe onde toca. Dizem que os indianos comem com uma mão e limpam o cú com a outra. Cada mão tem seu microambiente, eu prefiro assim, mas ai, quando cruzo as mãos, é um encontro de microculturas. E tem mais, tocamos a cara em média 2 a 3 vezes por minuto. Da mão pra cara, da cara pra mão – do cu pra cara, da cara pro cu. Transportadora de bicho. Da mão pra cara... TOC? Tiques, tiques, tiques. E de tique em TOC, os contágios chegam. Melhor ler uma carta de Tiny Tarot [lê carta, tira outra, lê outra...]. Dentro de mim moram trilhões de arcanos maiores, dentro deles arcanos menores, e menores, e menores, homúnculos-reis, rainhas, sacerdotizas, loucos, eremitas, micro-enforcados... Tudo o que disserem as cartas ressoa em alguma parte da minha microbiota – e da microbiota da minha microbiota. De perto, nada está errado já que cada verdade está composta de montanhas de mentiras. De dentro, tudo é diferente do que aparece de fora. Minha cara ou minha predileção por tomates amarelos não parece uma espiral, mas talvez esteja tudo lá, na espiral de DNA, tudo, comprimido e condensado, e talvez requerendo apenas um expediente de tradução – ah, a tradução também depende de outras minúcias, de outras enxurradas em minuatura – mas nem elas parecem com meu gosto por azeitonas (as miudinhas). Dentro de um rei tem um enforcado, dentro de um enforcado uma sacerdotisa, dentro dela uma torre, uma estrela, uma lua. Somos todas colecionadores de destinos em miniaturas, de oráculos que roçam em outros oráculos, de componentes intrusos. Nossas manivelas são giradas por populações de sais, de cristais, de elementais. Por alianças demoníacas em pequena escala, acopladas a sociedades de células, a precárias diplomacias de imigração e de contrabando.




          De dentro, tudo pode ser diferente. Eddington, há quase noventa anos atrás, falava que, diante de uma mesa, estava diante de duas: a mesa substancial e a mesa científica. A segunda mesa é feita de nacos menores que qualquer naco de madeira, é quase vazia e contém partículas sem cor, sem cheiro e insossas ao roçar de uma língua. Na segunda mesa não há nada de sólido, nada que tenha a forma de mesa, nada de substancial. Eddington aludia a nanomania de ver na mesa substancial uma população de partículas errantes. Mas é certo que não há apenas duas mesas, nem três, nem quatro. Mas há um foco de cada vez. A micromesa, por exemplo, é feita do que está dentro da mesa em suas partes 10-6 vezes menores. A nanomesa de partes 10-9 menores. A picomesa de partes 10-12 menores. A femtomesa de partes 10-15 menores. A atomesa de partes 10-18 menores. A zeptomesa de partes 10-21 menores. A yoctomesa de partes 10-24 menores. E as outras multidões de mesa, uma cabendo dentro da outra como matryoshkas encalacradas. Mas as mesas não se parecem – elas ficam menos substanciais a cada mergulho no mais ínfimo, mais estranhas, mais irreconhecíveis, menos mesas. Há um sentido em que elas não estão todas aqui ao mesmo tempo, que ninguém as pode espionar todas de uma vez. Elas habitam os dentros – não mais como as matryoshkas que podem ser enfileiradas uma do lado da outra, como se elas formassem uma paisagem composta de partes independentes que foi arranjada de modo a estarem uma dentro da outra, mas como roupas vestidas uma sobre a outra: impossível vê-las todas vestidas, ainda que possamos vê-las todas no armário. É que o que está dentro, o que está escondido, chegando mais perto, perdemos o que está mais longe. Duas mesas, diz Eddington. Muitas mesas. Heráclito, renascido por um delírio anarqueológico recente, diz no seu fragmento 204:

          Se estamos em um exercício de voyerismo das coisas (mesmas), como parece que tanta gente anda pensando, essas coisas também agem decidindo o que permitirão que seja visto. Raramente as coisas são apenas espionadas. Elas estão em uma sala de onde as vemos, mas elas estão fazendo um peep-show. Elas decidem como as vemos – e vão para casa depois do horário de trabalho.

          Quando se vê o bóson, já não se vê os micróbios que eles constituem e nem a madeira em que habitam. Para ver por dentro é preciso entrar – quando se entra, não se fica do lado de fora. Estar em qualquer lugar, mesmo para um olho, é estar em um lugar particular, como estar em uma encruzilhada onde há um horizonte – qualquer olho só vê até onde vai a vista, até onde vai o foco, todo o resto fica aturdido, fica indistinto, como as brumas para além do horizonte, como a noite. Para focar em alguma coisa, é preciso deixar indistinto todo o resto – pomos os olhos em tudo, pomos os olhos no que está para além do que conseguimos focar, mas não vemos nada no que vemos. O ínfimo também ama esconder-se – esconde-se às vezes no imenso. O ínfimo se fantasia, mas a fantasia é que faz com que o ínfimo, disfarçando seu íntimo, apareça, fantasiado, ao olho nu.





          As mesas de Eddington – e as tantas outras – são diferentes entre si. Nada lembra uma mesa na aparência microscópica dos quarks recônditos nela. Toda coisa é revestida de outra – os aglomerados de populações picoscópicas transvestem-se em corpúsculos nanoscópicos muito diferentes. Trata-se de uma tectônica do pequeno que pulsa as diferenças dos grandes. Mas por vezes o pequeno prefigura o que compõe. Assim com os pequenos insetos que flutuam pelos fluidos dos insetos macroscópicos – ácaros parecem mosquitos, vermes parecem lagartas. As vezes as coisas se pré-produzem em miniaturas. TOC? Uma vez em um desfiladeiro no cerrado encontrei um barranco cercado de flores cor-de-laranja e no meio delas uma poça de água, profunda. Como sou Cisco do Quark, profeta de miudezas, deitei na grama e comecei a colher da água, das folhas dos aguapés em minhas garrafas em miniatura. Ao meu lado, em uma expedição de curiosos pelos becos naturais, um especialista em paineiras em pátios de escolas começou a me contou do trabalho de Rebeca Viana no Jalapão. Ela levou lupas e microscópios, Tripa do Bóson, até as comunidades de artesãos que trabalham com estas plantas. E ele me contava do que viram nas imagens de dentro destes materiais aqueles artesãos. Eu enchendo vidros e vidros de porções de água do barranco, e ele me contando do que viram eles nos interstícios daquele material. Eles enxergaram nos meandros das fibras do capim dourado seus vasos, seus pratos, seus potes, suas mandalas, suas cestas. As formas estavam lá prefiguradas. Ou assim eu imaginei quando cheguei a boca do microscópio com minhas águas de barranco e nelas vi pequenos percevejos, pequenos animalejos, pequenos caranguejos e no meio deles uma sereia cercada de nanoxuns. As coisas se repetem – recapitulam suas formas. O recapitulacionismo é um antigo delírio do retorno: Kielmeyer, Oken, Cuvier, Schelling, Haeckel, Geoffroy St. Hilaire, Goethe, formas vivas recapitulam seus cristais formadores, estados dos embriões recapitulam estágios passados da história da espécie, homúnculos prefiguram as províncias dos humanos, corpos recapitulam protoplasmas, toda a natureza recapitula o germe primário de Novalis, rochas recapitulam microorganismos, células recapitulam átomos, nebulosas recapitulam águias e tarântulas. A longa história dos retornos – micróbios parodiam planetas. O micro-mundo, insubstancial, insinua o calibre da substância. 



          Eis a nanomania do mundo em miniatura. As miniaturas são leves, condensadas e portáteis. Como as maquetes. Como os mapas dobrados dos grandes territórios das cidades. Vila-Matas escreveu uma história abreviada do delírio da portabilidade: levar dentro de uma valise, como fazia Marcel Duchamp, toda a sua obra, todo o seu universo. Abreviar – esta é a nanomania que mais coça. De tudo isso que há, vastos espaços, cheios de tantos tipos de coisas, e com tantos reentrâncias e protuberâncias em cada uma delas, há que haver algumas poucas que carregam o ônus de fazer tudo acontecer. Há que se achar a coleção certa de miniaturas. Reduzir a uns poucos objetos, eventos, princípios e forças todos os outros. Encontrar as partículas que, como uma mônada esquisita, coordenam e animam todos os ímpetos, toda a patuscada. O gosto pela miniatura das miniaturas – pelo bojo do dentro, pela última das matryoshkas. Encontrar o gene que miniaturiza meu gosto pelos tomates amarelos. Encontrar o vírus que coordena meus humores, meus espirros, meus sintomas. Ou encontrar a partícula que faz as coisas existirem, o existon, ou o realitón. Encontrar o átomo dos átomos – a pedra filosofal em tamanho ínfimo, o graalon. O ponto final. Um ingrediente indivisível que não tenha tripas, não tenha cisco, não tenha caspa, não tenha interior. Um interior sem interior: um á-tomo. Sem TOC. Sem convulsão. Uma partícula que não se coce.

          Ao átomo se contrapõe a mônada e os infinitesimais. Os infinitesimais são formados de outros infinitesimais como uma matryoshka atualmente infinita. São partículas que não podem ser expostas em uma paisagem finita já que dentro dos infinitesimais há outros infinitesimais, são miniaturas com miniaturas dentro – tudo é como uma gosma: tudo tem partes. As mônadas, por sua vez, são indivisíveis. Mas elas se encontram por toda parte, elas se proliferam no infinitesimal. Leibniz procurou um modo de associar as mônadas aos pontos – se eles são infinitos para formar um ponto. Decidiu que elas não são espaciais, elas governam o espaço; elas não são materiais, elas governam a matéria. Não há nenhuma porção de matéria, por menor que seja, que não esteja repleta destas enteléquias. Elas governam um departamento em aliança com as mônadas que governam partes daquele departamento. Microsuseranos e nanovassalos, nanosuseranos e picovassalos, uma coceira interminável. Os corpos estão cheios de corpúsculos, cada qual com uma alma que tece alianças com as almúsculas. A alma governa o corpo com as almúsculas, o corpo expressa as almúsculas com seus corpúsculos que, por sua vez, estão cheios de departamentos de outras enteléquias. Ein sof. É como se minhas sarnas tivessem também suas sarnas, que também tivessem suas sarnas. Nós, sarnas de Gaia. Eu, o planeta de muitas populações superpoviadas, de muitos governos gerais com muitos governos locais, todos em uma orquestra – e Leibniz dizia: em uma harmonia pré-estabelecida, já que cada enteléquia governa em consonância com todas as outras e ao lado da nanomania, uma megalomania: o melhor de todos os mundos possíveis. O mundo sendo criado por inteiro, dobra por dobra, delírio por delírio, governo por governo. Num mundo hiperlotado, foi assim que Leibniz conseguiu exorcizar o desgoverno das alianças feitas de outras alianças feitas de outras alianças. É feita de alianças as partes das alianças: o substrato é mais substância. A matéria se dissolve em infinitas almúsculas, em enteléquias com territórios infinitesimais.





          A vida é também um delírio do pequeno. Aquilo que forma a vida – pequeno, na escala do 10-8, na escala das moléculas de adenina, guanina, citosina e timina. Nada pode ser menor do que isso e estar vivo. A vida tem seus ingredientes atômicos, eles não cabem em um bóson, em um neutrino, em um quark. Nem no cisco do quark. O delírio da inteligência também é pequeno – do tamanho de uma midichlorian que traz A Força. As midichlorians se acumulam para trazer a força: atravessar o espaço sideral, em uma guerra nas estrelas, em busca de partículas. Nas órbitas dos planetas – e de todas as coisas que os imitam – há a vizinhança da nanomania epicurista. As clinamens: os desvios. Os átomos, diz Lucrécio, se desviam minimamente de suas órbitas, um desvio imperceptível, um desvio infinitesimal, um impacto do ínfimo sobre todo imenso. As clinamens ocorrem talvez porque as repetições – como as trajetórias – encontram sempre um meio diferente onde elas tem lugar. Elas não acontecem no vácuo, mas em um lugar onde há outras partículas, em outras órbitas, em outras trajetórias. Existir é coincidir – é medir forças com o que mais há. E, assim, nenhuma trajetória resiste ao desvio. A clinamen é o delírio do pequeno dos epicuristas: se não fosse pelo desvio, nada de novo jamais surgiria no universo. O ímpeto do novo é também o delírio do pequeno. Os pequenos deslocamentos. Apenas as 3000 vezes que levo minha mão à cara. Os microTOCs. Os nanotiques. É neles que aparece alguma coisa nova. Solta. As solturas se produzem dobra por dobra, empurrão por empurrão. A vastidão do novo começa com um desvio, com uma repetição mal-feita, como uma mensagem distorcida em uma sequência como de telefone-sem-fio.

          O delírio do pequeno é também um horror ao vasto vácuo – um horror aos becos baldios, as paragens inabitadas, aos silêncios. Os delírios começam com os silêncios – quando as vozes desaparecem, quando os sons não se escutam. É a vontade de povoar as terras vazias, de soar pelos silêncios. É o pequeno delírio da expressão, que é também o delírio do desvio, da distorção, do pequeno deslocamento sobre as órbitas traçadas. Eu passo meus anos olhando pelos pequenos buracos. Desde pequeno aprendi a fazer um pequeno orifício de luz entre os meus dedos dobrados e desenhava com o feixe de luz órbitas. Aquelas órbitas girando me entretinham e me acalmavam – eu esperava os pequenos desvios, esperava, escondido em um pequeno beco na saída do esgoto da escola, sentado e olhando para as órbitas entre os meus dedos. Ali, longe dos olhos macroscópicos das outras pessoas e olhando as magnitudes do objeto pequeno a que se desenhava, eu me inseria em um autismo em que horas se passavam mesmo em quinze minutos. O pequeno me hipnotizou. Eu pensava que queria trazer meus amigos para dentro dos meus olhos, mas as palavras eram grandes demais para os pequenos desvios que eu só via de soslaio, eu só via pelo rabo de um delírio. Fernand Deligny, que passou anos ao lado de autistas e nanomaníacos dizia: e se nós fossemos o que temos que aprender, os que temos que aprender a calar na língua deles... Os pequenos barulhos... O pequeno normalmente se ouve apenas quando aparece em grandes quantidades – como os desvios constituindo a órbita, a repetição destorcida instituindo a diferença, os bósons constituindo uma mesa substancial. Pequenos são os grunhidos, os pequenos barulhos, os microruídos e os monossílabos que por vezes abreviam enormes amontoados de palavras. Os grunhidos também tem seus ritmos, nanoritmos em miniatura. E as batidas – pequenas – se amontoam em ritmos. Os ritmos que se distorcem através das batidas avulsas. O agora. Esta coceira. O tempo também tem seus desertos, suas abundâncias, suas proliferações e suas microscopias. Ele também tem suas infecções. O tempo de coçar. Um instante cabe em um outro instante, nanosegundos, picosegundos, trizes... e não tem fim para o agora. Quando esta coceira vai parar?





















Assista a performance na íntegra aqui.

Para mais fotos clique aqui.

manhã esportiva com @s usuári@s!

E nossa manhã de quinta-feira (16 de maio) foi assim...








Confira mais fotos clicando aqui.

quarta-feira, maio 15

e a semana continua...


roda de conversa "comunicação e saúde mental"

Pense num papo bão...

Obrigada a todos que compareceram hoje na Roda de Conversa “Comunicação e Saúde Mental” :D

Em especial, agradecemos aos convidados Juliana Pacheco e Antônio Carvalho (psicólogos do CAPS II do Paranoá e representantes da Rádio CAPS LOCK), e Andressa Farias e Elias, representantes da Tv Sã!

Foi bom demais, pessoal! (:



programação de quarta-feira, 15 de maio


Passando pra deixar o registo da roda de conversa "Arte, Loucura e Cultura" que aconteceu hoje...

Agradecemos a todos que participaram e aos convidados Toty, Filipe Willadino, Pritama Brussolo e Maria Claúdia Vargas!! (:

Valeu, pessoal!!

E hoje às 19h ainda tem exibição dos curtas da TV Sã e a Roda de Conversa "Comunicação e Saúde Mental".

Os curtas:

- Para o Além (em parceria com a Tv Pinel, do RJ)

- Vizinhos do Barulho (em parceria com a Tv Pinel, do RJ)


- Efeitos Colaterais (realizado com a comunidade da ONG 


Inverso)


- Me Escuta, Brasília! (trabalho que documentou a Marcha 


Nacional pela Saúde Mental, em Brasília)



Apareçam!! Lá no Cineclubida! ;)

segunda-feira, maio 13

#ALoucuraÉParaTodos!

Primeiro vídeo da campanha #ALoucuraÉParaTodos!



"necessidade na cidade: saúde mental"


E no primeiro dia da Semana da Luta Antimanicomial aconteceu:


Apresentação da peça “Efeitos colaterais do preconceito” com o teatro do ISM + Oficina de percussão com o grupo Tamnoá + Oficina de carnaval e ensaio de marchinhas com o Bloco do Rivotril + TODO MUNDO JUNTO E MISTURADO CANTANTO, TOCANDO E DANÇANDO PELO MINHOÇÃO EM PROL DA LUTA ANTIMANICOMIAL! :D


Foi muito bom, pessoal! Agradecemos a todos que participaram e curtiram conosco esse dia  MARA!























Ei, psiu,  eu não quero rivotril
Ei, psiu,  eu não quero rivotril


Se você quer ser feliz,
Venha sambar aqui agora
Só não traga o rivotril,
Se não eu vou embora!


Ei, psiu, eu não quero rivotril
Ei, psiu, eu não quero rivotril


Seu doutor eu só lhe peço
Que não estrague o meu humor
Hoje estou de peito aberto
Para o samba e o amor


Ei, psiu,  eu não quero rivotril
Ei, psiu,  eu não quero rivotril

quarta-feira, maio 8

programação

E para aqueles que não aguentavam mais de ansiedade...

SAAIIIUUU A PROGRAMAÇÃO!!! :))

Serão rodas de conversa, oficinas musicais, manhã de esportes, performances, teatro, filmes...

Vocês não podem perder!!















Ajudem-nos a compartilhar o evento no facebook clicando aqui!

Abraços,

Equipe LASMEC

quinta-feira, maio 2

chegando na mídia

Semana passada uma mocinha muito simpática entrou em contato com a Liga para nos entrevistar. Pois bem, eis que nossa conversa foi sobre tudo aquilo que nós, como Liga, lutamos e idealizamos. Leia a reportagem na íntegra aqui.

E não se esqueçam que essa sexta tem festa pra promover a Semana da Luta Antimanicomial!



papantes de angu







































Papangu. Papa-angu.

Permitam-me (a)presentar essa presepada (a)pelidada de Papangu, papantes de angu.
Papangus eram os precursores da perturbação da praça!! 
Provocavam o pandemônio pra pedir um prato de polenta!!! 
Pediam palpitação, prazer, promiscuidade, pu-ta-ria!
Peculiares eram os Papangus.
A praça?
O povoado?
Polvorosa, precipitada e pejorativamente o povo pediu peleja!!
(A)pedrejaram os “pífios” Papangus!!!
Presumível?
Por que?!
Por perversão? Prepotência? Preconceito?
Pois pensemos no próximo!
Precisamos prosseguir pagando promessas, pedindo perdão.

Permitam-me, pois, plausível público, propor-lhes programa, presente, passatempo, peregrinação, passeio pela parte preterida do povo.
Proporcionemos passagem para paziguar políticos, populares, pobres e pedintes.

Pernoitemos!

- Laís Pires

semana da luta antimanicomial


Tem também no YouTube


Dia 18 de maio é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial e a LASMEC quis promover uma Semana em homenagem a esse dia. O resultado? Será uma semana inteira de eventos culturais, artísticos e acadêmicos. Serão rodas de conversa, oficinas, eventos musicais, exposições, performances, instalações e outros trabalhos de diversas áreas da UnB.

De 13 a 17 de maio. Na UnB.